sábado, 23 de dezembro de 2017

Natal com as pessoas em situação de rua


No dia 13 de dezembro, a Pastoral do Povo de Rua da Paroquia de São Francisco de Assis realizou pelo segundo ano, a comemoração do Natal para as pessoas em situação de rua. Como no ano passado, o evento aconteceu na Praça do EPA, no Bairro Jardim da Penha. A celebração, preparada pela Pastoral, foi presidida pelo Pároco, Pe. Adenilson. Em sua homilia, com palavras simples, ele acentuou que Deus ama especialmente aqueles que não são amados e que Jesus nasce assumindo a condição do povo sofrido. Os pastores, pessoas pobres e que não tinham boa fama, foram os primeiros a receber o anuncio do nascimento do Messias. E estavam ali no presépio, junto a Jesus. Assim, hoje, Jesus se identifica com quem passa pela condição de morador de rua. Ele também não encontrou lugar e teve que nascer num curral, no meio dos animais.
Desde o início da celebração, as pessoas em situação de rua, se envolveram, com uma  participação comovente. Concluindo o momento celebrativo, cantamos Noite Feliz. Todos foram convidados a acender uma pequena vela no Círio, com a motivação de preservar sempre viva a chama da esperança que experimentamos pela vinda de Jesus ao mundo, assim sermos luzes uns para os outros .Foi lindo de ver como eles cuidavam de manter a sua vela acesa e um ajudava o outro a não deixar apagar a chama da pequena vela que cuidadosamente seguravam na mão. Também para os membros da pastoral foi um momento de profundo sentimento do que realmente significa o Natal. “Ao vermos ali nossos irmãos destituídos dos seus direitos, resistindo à exclusão e lutando pela sobrevivência cotidiana, sentimos que a melhor maneira de ajudá-los é respeitá-los, conhecê-los pelo nome, escutá-los e oferecer-lhes a nossa amizade".  
Terminada a celebração foram convidados a participar, som de cânticos natalinos, de uma ceia farta, preparada pelos membros da pastoral. A seguir receberam prendas contendo materiais de higiene de que tanto necessitam. Esta Pastoral teve inicio há dois anos, quando a nossa comunidade de Jardim da Penha, viu aumentar o número de pessoas em situação de rua. Sensibilizadas pelo sofrimento de tantos irmãos e irmãs que vinham bater à porta pedindo alimento ou roupa para cobrir o corpo, as irmãs, como comunidade, juntamente com outras pessoas também sensibilizadas pela situação, dentre elas o coordenador da pastoral do povo de rua a nível diocesano, decidiram promover a criação desta pastoral, na Paróquia de São Francisco de Assis.
As irmãs Combonianas, Geny e Paula, colaboraram no surgimento deste ministério, e atuam como membros da equipe que, com o apoio do Pároco, foi se constituindo por pessoas capacitadas em várias áreas; mas acima de tudo por pessoas movidas por um sentimento profundo de fé e amor, dons indispensáveis para esta ação de misericórdia, cuja missão é ser presença junto a essa população, reconhecer e celebrar os sinais de Deus presentes na sua história e desenvolver ações que transformem a situação de exclusão em projetos de vida para todos. Com estes objetivos a pastoral realiza encontros semanais com as pessoas que vivem em situação de rua, oferecendo a oportunidade de contato com a Palavra de Deus, além de alimentação, higiene e vestuário. Também estabelece parceria com comunidades terapêuticas, buscando acolher aqueles que demandam por tratamento de dependência química.
Ir Paula Camata




sábado, 9 de dezembro de 2017

ERA ESTRANGEIRO E ME ACOLHESTE

Era o dia 03.12.2017. Tarde de muito sol. A Avenida Paulista estava em festa. Bandeiras multicores desfraldavam.  O clima era de mundialidade. Bandeiras de Bolívia, Chile, Angola, Mauritânia, Senegal, Mali, Haiti, República Democrática do Congo, Paquistão, Bangladesh e Palestina, entre outras, davam uma ideia da diversidade presente na Marcha.Eram 4000 participantes. A banda de música, os tambores, flautas e outros instrumentos andinos, com seus ritmos próprios, davam um  toque de alegria pluricultural. O povo na rua com seus traços multirraciais anunciava que algo importante estava acontecendo. Trabalho de mobilização muito grande feito por muitos imigrantes latino-americanos, africanos e asiáticos, o que revela um processo de empoderamento do migrante, das redes e dos contatos pessoais.
Não era uma manifestação política do Movimento social “Vem Prá Rua”  e nem  do “Povo sem Medo”,  e muitos outros movimentos que marcaram presença na Avenida Paulista nesses últimos tempos. Era a 11ª Marcha dos Imigrantes, lutando PELO FIM DA INVISIBILIDADE DOS  IMIGRANTES. Marcha que foi instituída pela ONU em 18/12/1990 e que faz parte da mobilização mundial dos imigrantes. Este ano os imigrantes foram convidados a marcharem em prol da sua visibilidade enquanto sujeitos de direitos, ressaltando sua importância sócio econômica, cultural, histórica no desenvolvimento da sociedade brasileira.
Eu vi: crianças, jovens, mulheres, homens com seus trajes coloridos, o sorriso no rosto, em ritmos variados de danças, típicas das planícies e das alturas dos Andes anunciando: Estamos aqui. Viemos do frio e da neve das altas montanhas e das costas tropicais deste Continente. Viemos dos mares longínquos das costas africanas e aqui estamos. Viemos para ficar. Por isso lutamos, por isso dançamos, por isso cantamos, por isso marchamos.
QUAIS SÃO NOSSAS BANDEIRAS DE LUTA?
1 – Visibilidade e garantia de direitos para todas as pessoas imigrantes do mundo.
2 – Pelo fim do trabalho escravo e Contra a Portaria do Ministério do Trabalho nª 1129 de 13/10/2017.
3 – Pela regulamentação e implementação da nova Lei de Migração.
4 - Pelo Fim das deportações.
5 – Pelo direito de votar e ser votado.
6 – Pela Anistia aos imigrantes.
7 - Pelo fim da descriminação e xenofobia.
8 – pela ratificação dos tratados internacionais
9 – Pelo livre trânsito e residência para todos e todas.
10 -Pelo direito à educação, saúde, assistência social e moradia de qualidade.
11 – Pelo trabalho decente e justiça gratuita.
12 – Pela implementação de políticas publicas para todas as pessoas imigrantes.
13 – Pelo fim da exploração dos imigrantes.
14 – Por cidadania universal.


Nessa luta, estamos nós, as Missionárias Combonianas, que vivemos na zona leste de S. Paulo.  Decidimos acolher o apelo do Papa Francisco e plantar nossa tenda nessas periferias existenciais da Humanidade, solidarizando-nos com suas lutas, suas dores e lágrimas, conscientes de que a realidade do imigrante nessa cidade grande é missão através da qual Deus nos interpela como interpelou a comunidade de Mateus:“Era estrangeiro e me acolheste”(Mt 25,35).
                                                                                09.12.17
Amine Abrahao da Costa
Missionária Comboniana